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7 DE NOVEMBRO DE 2008 - 20h21 Os planos desfragmentadores de Jandira para a Cultura do Rio


''Integrar, democratizar e dar acesso'' são os verbos que Jandira Feghali destaca para sua próxima tarefa, secretária da Cultura do Rio de Janeiro, que nesta entrevista ao Vermelho ela caracteriza como ''uma cidade profundamente fragmentada''. Com uma plataforma que assimila várias de suas propostas como candidata a prefeita, e o compromisso de turbinar a Secretaria assumido pelo prefeito eleito, Eduardo Paes (PMDB).


Jandira Feghali: paixão não vai faltar

Tarde da noite da segunda-feira, Jandira Feghali chegou arrasada na sua casa, encarapitada numa ladeira de Laranjeiras. Vinha de uma reunião com a direção do PCdoB-Rio de Janeiro, onde milita há 27 anos, que discutira a proposta de Eduardo Paes, para que ela assuma a Secretaria Municipal de Cultura. Foi dormir às voltas com sentimentos dissonantes.


Paixões de uma mãezona em conflito


A ex-candidata do PCdoB a prefeita é sabidamente uma apaixonada. Derrotada no primeiro turno (teve 9,7% dos votos), apoiou Paes contra o verde Fernando Gabeira – ''Candidatura despolitizada e atrasada, que tirou identidade da esquerda'', diz ela. Isso reforçou seu prestígio nas zonas oeste e norte, onde habita o voto popular, mas valeu-lhe não poucas pedradas de seus eleitores da zona sul.


Depois que Eduardo Paes venceu Gabeira – por apenas 1,7 ponto, atestando que o apoio da esquerda foi decisivo –, Jandira vivia a tentação de uma vida mais sossegada, com maior espaço para os filhos. Mãezona assumida de Helena, 15 anos, e Thomaz, 6, mesmo no pico da campanha mantinha o ritual de abrir o quarto dos dois toda noite, para ver se estavam bem.


A candidata acordou às 4 horas da madrugada, ainda discutindo consigo mesma: ''Quer saber, Jandira?'', disse, ''se tem um lugar onde a gente pode repor uma visão avançada, ajudar a repolitizar esta cidade, remontar um referencial, é a Cultura''. Então, sentou-se ao computador. Nas horas seguintes, enquanto o sol nascia, elaborou as propostas de cultura que apresentou a Eduardo, às 10 da manhã.


Paes: ''Nessa área eu serei o assessor dela''


Entrevistada por Bernardo Joffily, do Vermelho, nesta sexta-feira (7), Jandira argumentou que na Cultura pode até engajar Helena e Thomaz. Valorizou a disposição do prefeito eleito, que ao anunciar seu nome à imprensa disse que ''nessa área eu serei o assessor dela''. Nos primeiros minutos de entrevista, já estava patente que não faltará paixão à futura secretária.


O envolvimento de Jandira com a cultura vai muito além da carreira de baterista na adolescência. Passa pela primeira lei de incentivo ao setor depois do furacão Fernando Collor, em 1990, como deputada estadual, e pelo projeto de regionalização da produção de rádio e tevê, aprovada em 2006 na Câmara e enviada ao Senado.

Veja os trechos principais da entrevista:


Vermelho: Que propostas a secretária Jandira Feghali levará para a cultura carioca?


Jandira: Durante toda a campanha eleitoral a gente demarcou o Rio de Janeiro como uma cidade fragmentada, comportamentalmente, nas políticas públicas e até territorialmente, fisicamente. Profundamente fragmentada. A gente então trabalhou a marca de uma cidade integrada. E a política cultural integra. A transversalidade da cultura é ilimitada. Eu digo que ela tem que fazer parte da cesta básica da cidadania, tanto quanto o arroz e o feijão.


No Rio de Janeiro, em particular, a cultura tem um grande poder de redução de da criminalidade. Tem uma grande transversalidade em primeiro lugar com a educação. Permite, por exemplo criar um ''Segundo Tempo na Cultura''. Tem uma transversalidade com a ciência e tecnologia, porque o Rio pode se firmar como o maior centro de produção audiovisual do Brasil; com a indústria criativa, de design, moda, etc.; com o turismo e outras atividades econômicas.

O poder público pode fazer um grande trabalho de integração dos diversos movimentos culturais do Rio. Com a cultura você chega no coração popular, deixando essa concentração muito grande no centro-sul (as zonas do Rio com maior renda), e chega também no topo da intelectualidade carioca.

Vermelho: A Secretaria vai fazer parcerias?


Jandira: Vamos imediatamente puxar várias parcerias. A primeira, claro, com o Ministério da Cultura, com as empresas estatais e outras. Há muita coisa para se fazer. Por que, por exemplo, no lugar de uma biblioteca não podemos ter uma midiateca, multimídia, como a juventude deseja hoje? E por que a midiateca não pode funcionar em um posto de saúde?

Vermelho: Pelo visto o prefeito eleito vai dar liberdade e recursos para você aplicar idéias da sua campanha...

Jandira: O Eduardo se comprometeu publicamente a dar um grande incremento orçamentário. Disse – são palavras dele – que não será uma secretaria coadjuvante, será uma secretaria estratégica. Reincorporaremos também a Secretaria do Patrimônio Cultural da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro; é pepino, mas é poder.


Deveremos ter ainda uma participação na tevê que a Prefeitura possui, ligada à Secretaria da Educação (que terá Cláudia Costin como titular). Teremos a Casa do Hip Hop na Lapa e o projeto Lapa Legal, em uma área expandida, que vai até a Cinelândia e encerra uma riqueza cultural enorme. Teremos o Centro da Capoeira.


O Eduardo apoiou a idéia da Secretaria da Cultura participar do comando do projeto de reivindicação da área do porto. Pensamos em criar ali um mercado popular de artesanato, como existem na Bahia e outros lugares.


Queremos a ocupação cultural do espaço público. Eu digo que carioca não tem medo de praça cheia, tem medo de praça vazia. Queremos ter um enorme caminhão com um telão para passar cinema nas praças.


Vermelho: E o que será feito da Cidade da Música?


Jandira, rindo (o projeto do ainda prefeito Cesar Maia, do DEM, foi contestado por ela e outros candidatos como megalômano, ''não um abacaxi, mas uma jaca''): Qual o problema da Cidade da Música? O custo de manutenção. Vamos manter ali a Orquestra Sinfônica da Cidade, que tem orçamento próprio, de R$ 100 milhões. Mas aquilo são 90 mil metros quadrados, é maior que a de Paris, que a de Luxemburgo.
Então, combinei de fazer da Cidade da Música um centro de integração das linguagens culturais, da diversidade cultural da cidade. E também um centro de educação musical. Quanto à manutenção, vamos chamar a iniciativa privada, fazer um pool, uma parceria para manter o projeto.